Profissão Professora

Desde quando decidi pela graduação de História ouço a frase: "Mas você não vai ganhar dinheiro sendo professora!"

E desde que entrei na faculdade estou ciente disso: não vou ganhar dinheiro com a minha profissão.

Ser rica nunca foi minha meta, sou o tipo de pessoa que se contenta com "uma casa no campo do tamanho ideal pau a pique e sapê."

Invejo quem conseguiu se firmar na vida fazendo o que gosta, mas minha inveja é rara, pois raras são as pessoas que eu conheço nesse perfil.

Antigamente, quando comecei a trabalhar, pensava que um bom padrão de vida era o da pessoa que ganhava dinheiro e tinha tudo o que quisesse, tudo menos a saúde e a psicologia em ordem. Hoje defendo a qualidade de vida em primeiro lugar.

Até janeiro trabalhava em um colégio particular no qual não tinha grandes problemas, o serviço era tranquilo, a maioria dos funcionários são grandes amigos, trabalhava das 8h às 17h e no 5º dia útil do mês tinha um depósito razoável na minha conta. Mas minha frustração era superior ao valor do meu holerite. Trabalhava na secretaria desse colégio e por não ter experiência como professora tinha plena ciência de que nunca subiria os andares e alcançaria o Fundamental 2 e o Ensino médio (2º, 3º e 4º andar do prédio. A secretaria fica no térreo.). Por conta dessa frustração resolvi ir buscar o meu objetivo de ser professora. Hoje que não tenho grandes responsabilidades financeiras ou familiares e vejo este como o momento propicio para dar inicio a minha profissão professora.

Depois de 2 dias comparecendo as atribuições de aulas do Estado de São Paulo e saindo de lá sem nenhuma aula finalmente no 3º dia consegui pegar aulas em um colégio ao lado da minha casa. Acho a atribuição de aula mais humilhante do que o salário de R$ 7,90 hora/aula que o Estado nos paga.

Vou tentar explicar como ocorrem as atribuições. No fim do ano é aplicada uma prova para todos os professores da rede estadual. Os professores efetivos da rede fazem essa prova somente para acumularem pontos e os demais professores para classificação para atribuição no ano seguinte. No Estado hoje existem algumas categorias e eu me enquadro na categoria "O", pois não sou efetiva e sou contratada do Estado, não sou funcionária efetiva, em outras palavras: sou uma "tapa-buraco". São 80 questões a serem respondidas em 4 horas, sendo que as questões de histórias, como vocês podem imaginar, ocupam uma folha inteira só o enunciado, no entanto esse ano pegaram mais leve, era só meia folha o enunciado (Ufa?). Depois dessa prova sai a classificação de acordo com o seu número de acertos e se você tem filhos, é casado e já possui pontuação no Estado. No dia da atribuição são expostas as aulas que os efetivos não quiseram pegar para completar sua carga horária. Essas aulas são provenientes de licenças médicas, aulas que os coordenadores atribuem e depois vão assumir o cargo de coordenação, bem como os diretores, e aulas que rodam na rede sabe-se lá por qual motivo. Os melhores classificados e de categoria superior são os primeiros a atribuir aulas, depois são os "O" e depois, isso se sobrarem aulas, os que tem pontuação mas não atingiram o número mínimo de acertos na prova classificatória, 40 pontos, e por fim os que ainda cursam a faculdade.

Nos dois primeiros dias eu nem fui chamada para escolher as aulas, pois já não haviam mais. No terceiro dia, por conta de desistências, eu consegui.

Você sai das atribuições com um sentimento de raiva das pessoas que pegaram 15 - 20 aulas e ainda vão as atribuições tentar fechar sua carga máxima que é de 33 aulas, e é exatamente isso que o Estado quer, fazer com que a classe de professores sintam raiva e que haja desunião entre eles. E devo dizer que eles estão tendo grande êxito nessa função.

Dei minhas primeiras aulas na semana passada e devo dizer que meus três anos de graduação me prepararam muito bem para essa experiência. Tremia dos pés a cabeça pelo corredor me encaminhando, e tropeçando (isso acontece quando fico nervosa), para a primeira aula da minha vida. Entrei na sala, penso que deveria estar branca e em choque, mas isso durou o tempo de caminhar até a mesa do professor, a minha mesa. Me apresentei para sala e quis saber se eles tinham alguma pergunta para mim, e lá veio a pergunta de sempre: "Quantos anos a senhora tem?" ... Na verdade já estou acostumada com isso, afinal parece ter a idade deles. A aula seguiu bem, não tive grandes problemas e vejam só, nem gaguejei. Descobri que se eu usar a mesma linguagem deles, conhecer os gostos e anseios deles eu me darei muito bem. Afinal, já passei por isso. Ao sair da primeira sala me encaminhei para segunda e dessa vez nem tropecei... e assim se seguiu para as demais 3 aulas que eu dei. Cheguei em casa exausta e sem voz, mas estava feliz, bem mais feliz do que me lembrava ter estado. Descobri que não pegar ônibus lotado, não ter que responder aos "Bom dia" falsos, não ter que fazer aquilo que não gosto me fazia muito bem.

Pois bem, aqui estou eu, de jaleco e giz na mão. Hoje tenho cerca 235 "patrões" que ao me verem no corredor da escola me dão um sincero "bom dia" e sorriem. Não é aquele "bom dia" forçado das empresas privadas, para manter um bom "relacionamento com os colegas de trabalho".

Hoje tenho cerca de 235 alunos que esperam algo de mim, bem como eu espero deles.

Não vou mudar a vida dos meus alunos, e nem tenho essa pretensão. Já faz um tempo que não tento mais mudar o mundo. Mas se daqui alguns anos um aluno meu me encontrar na rua e dizer que eu contribui para o seu sucesso pessoal eu vou ter o orgulho e sem nenhuma modéstia eu poderei falar que pelo menos a vida de uma pessoa no mundo eu consegui salvar.

Sim... professora, graças a Deus!

Profissão Professora

Desde quando decidi pela graduação de História ouço a frase: "Mas você não vai ganhar dinheiro sendo professora!"

E desde que entrei na faculdade estou ciente disso: não vou ganhar dinheiro com a minha profissão.

Ser rica nunca foi minha meta, sou o tipo de pessoa que se contenta com "uma casa no campo do tamanho ideal pau a pique e sapê."

Invejo quem conseguiu se firmar na vida fazendo o que gosta, mas minha inveja é rara, pois raras são as pessoas que eu conheço nesse perfil.

Antigamente, quando comecei a trabalhar, pensava que um bom padrão de vida era o da pessoa que ganhava dinheiro e tinha tudo o que quisesse, tudo menos a saúde e a psicologia em ordem. Hoje defendo a qualidade de vida em primeiro lugar.

Até janeiro trabalhava em um colégio particular no qual não tinha grandes problemas, o serviço era tranquilo, a maioria dos funcionários são grandes amigos, trabalhava das 8h às 17h e no 5º dia útil do mês tinha um depósito razoável na minha conta. Mas minha frustração era superior ao valor do meu holerite. Trabalhava na secretaria desse colégio e por não ter experiência como professora tinha plena ciência de que nunca subiria os andares e alcançaria o Fundamental 2 e o Ensino médio (2º, 3º e 4º andar do prédio. A secretaria fica no térreo.). Por conta dessa frustração resolvi ir buscar o meu objetivo de ser professora. Hoje que não tenho grandes responsabilidades financeiras ou familiares e vejo este como o momento propicio para dar inicio a minha profissão professora.

Depois de 2 dias comparecendo as atribuições de aulas do Estado de São Paulo e saindo de lá sem nenhuma aula finalmente no 3º dia consegui pegar aulas em um colégio ao lado da minha casa. Acho a atribuição de aula mais humilhante do que o salário de R$ 7,90 hora/aula que o Estado nos paga.

Vou tentar explicar como ocorrem as atribuições. No fim do ano é aplicada uma prova para todos os professores da rede estadual. Os professores efetivos da rede fazem essa prova somente para acumularem pontos e os demais professores para classificação para atribuição no ano seguinte. No Estado hoje existem algumas categorias e eu me enquadro na categoria "O", pois não sou efetiva e sou contratada do Estado, não sou funcionária efetiva, em outras palavras: sou uma "tapa-buraco". São 80 questões a serem respondidas em 4 horas, sendo que as questões de histórias, como vocês podem imaginar, ocupam uma folha inteira só o enunciado, no entanto esse ano pegaram mais leve, era só meia folha o enunciado (Ufa?). Depois dessa prova sai a classificação de acordo com o seu número de acertos e se você tem filhos, é casado e já possui pontuação no Estado. No dia da atribuição são expostas as aulas que os efetivos não quiseram pegar para completar sua carga horária. Essas aulas são provenientes de licenças médicas, aulas que os coordenadores atribuem e depois vão assumir o cargo de coordenação, bem como os diretores, e aulas que rodam na rede sabe-se lá por qual motivo. Os melhores classificados e de categoria superior são os primeiros a atribuir aulas, depois são os "O" e depois, isso se sobrarem aulas, os que tem pontuação mas não atingiram o número mínimo de acertos na prova classificatória, 40 pontos, e por fim os que ainda cursam a faculdade.

Nos dois primeiros dias eu nem fui chamada para escolher as aulas, pois já não haviam mais. No terceiro dia, por conta de desistências, eu consegui.

Você sai das atribuições com um sentimento de raiva das pessoas que pegaram 15 - 20 aulas e ainda vão as atribuições tentar fechar sua carga máxima que é de 33 aulas, e é exatamente isso que o Estado quer, fazer com que a classe de professores sintam raiva e que haja desunião entre eles. E devo dizer que eles estão tendo grande êxito nessa função.

Dei minhas primeiras aulas na semana passada e devo dizer que meus três anos de graduação me prepararam muito bem para essa experiência. Tremia dos pés a cabeça pelo corredor me encaminhando, e tropeçando (isso acontece quando fico nervosa), para a primeira aula da minha vida. Entrei na sala, penso que deveria estar branca e em choque, mas isso durou o tempo de caminhar até a mesa do professor, a minha mesa. Me apresentei para sala e quis saber se eles tinham alguma pergunta para mim, e lá veio a pergunta de sempre: "Quantos anos a senhora tem?" ... Na verdade já estou acostumada com isso, afinal parece ter a idade deles. A aula seguiu bem, não tive grandes problemas e vejam só, nem gaguejei. Descobri que se eu usar a mesma linguagem deles, conhecer os gostos e anseios deles eu me darei muito bem. Afinal, já passei por isso. Ao sair da primeira sala me encaminhei para segunda e dessa vez nem tropecei... e assim se seguiu para as demais 3 aulas que eu dei. Cheguei em casa exausta e sem voz, mas estava feliz, bem mais feliz do que me lembrava ter estado. Descobri que não pegar ônibus lotado, não ter que responder aos "Bom dia" falsos, não ter que fazer aquilo que não gosto me fazia muito bem.

Pois bem, aqui estou eu, de jaleco e giz na mão. Hoje tenho cerca 235 "patrões" que ao me verem no corredor da escola me dão um sincero "bom dia" e sorriem. Não é aquele "bom dia" forçado das empresas privadas, para manter um bom "relacionamento com os colegas de trabalho".

Hoje tenho cerca de 235 alunos que esperam algo de mim, bem como eu espero deles.

Não vou mudar a vida dos meus alunos, e nem tenho essa pretensão. Já faz um tempo que não tento mais mudar o mundo. Mas se daqui alguns anos um aluno meu me encontrar na rua e dizer que eu contribui para o seu sucesso pessoal eu vou ter o orgulho e sem nenhuma modéstia eu poderei falar que pelo menos a vida de uma pessoa no mundo eu consegui salvar.

Sim... professora, graças a Deus!

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